sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Soneto: Breve Lousa

A tua laje fria me toma assim
Como as nuvens cobrem a lua,
Em grande tristeza por fim
Me vejo entregue a vida tua... 

Sigo os caminhos mais escuros.
Vago de campa em campa só,
Ouço esses espíritos obscuros
Levantarem da tumba, do pó...

Cavo mais fundo essa cova...
Com capricho me elevo somente.
Os braços fortes na casa nova.

Criam um novo recinto doente.
Cantem orbes sofridas e altas
Onde apenas importam as faltas.

(Pedro Araújo)

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Condeno-te por cada momento

Condeno-te ao pior sentimento
Ao abalo vil no corpo e na alma.
Condeno-te por cada momento
Que destruiu a minha calma...

Que a praga mais traiçoeira...
Devore lentamente a tua vida
Seja a dor um grão de areia
Movendo essa doce ferida...

Dou o meu sangue já abatido
Às sombras que me escutarem.
Ah, respondam esse meu pedido.

Façam justiça para que sarem
As lesões profundas que sinto.
Acalmem esse coração faminto.

(Pedro Araújo)

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O mundo não me pertence mais

As flores murchas do canteiro
Tombam no silêncio oportuno.
Eu caminho triste no noturno,
Não me sentindo mais inteiro.

Oh, ventos frios do cemitério.
Canto soprano me toma ainda.
Em cada viela uma face linda.
O coração um grande mistério.

O mundo não me pertence mais.
A vontade se foi sem motivo,
Não me busque por aqui jamais.

Eu senhor não estou mais vivo.
Pobre corvo com a asa quebrada.
[...] Alma infeliz e mal amada...

(Pedro Araújo)

sábado, 21 de novembro de 2020

Eu te condeno

Eu te condeno sempre e tanto
Por ter ferido o meu coração.
Não sabes, meu amor, o quanto
De mim virou essa solidão...

Olho para o céu e nada contemplo
Além do pesar do firmamento.
Caminho por dentro desse templo
Criado pelo meu sofrimento...

Não vejo saída para essa falta
Que alarga o vazio que sinto.
Peço inspiração ao que exalta...

... esse pobre coração faminto.
Eu te condeno e isso persiste
Como um conto longo e triste...

(Pedro Araújo)

O Corvo

Árvores decrépitas e amaldiçoadas
Sombras malditas, todas amarguradas.
Pelo campo dos mortos desprezados
Volvam no ar dos mal aventurados.
 
Raiva, inveja e solidão presentes
Lágrimas que tomam os decadentes.
Afoguem com fúria os desgraçados
Nas angústias, todos abraçados...
 
Oh, almas sem paz nos seus prantos
Amem o vazio e vaguem nos espantos
Cavem bem fundo o amor profano.
 
O tempo vai e a dor segue ano a ano.
Corre a pena e com ela o seu encanto.
Comigo morre o que enfim eu canto. 

(Pedro Araújo)

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Bom soldado, amigo e guerreiro

Aponta a arma o triste soldado.
No chão jaz um pai de família.
Lutou feroz uma guerra por dia
E terminou ferido e desarmado.
 
As mulheres choram, pobrezinhas!
A carta chegou rápido pelo correio.
- Lutou pelo país e foi com receio
Que escrevi essas duras linhas...
 
Bom soldado, amigo e guerreiro.
Foi de todos o mais corajoso.
Pondo-se à frente do morteiro.
 
E impetuoso no campo, majestoso.
Guiou para a vitória os semelhantes
Pelos mais hostis e duros frontes. 

(Pedro Araújo)

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Seja forte e sempre com orgulho

Pobre coração sem coragem e vil,
Que se perde fraco diante do amor.
Que certamente ninguém nunca viu.
[ ... ] Está soterrado em sua dor...
 
Acorde coração, já que segue a vida.
Levante a espada e, em riste, veja
O mundo recitar a nota proibida
Que apenas essa dura ferida goteja.
 
Seja forte e sempre com orgulho
Diante dos risos e dos pesadelos.
Segure o ânimo, amarre os cabelos.

Lave bem o rosto. E num mergulho
Nas mudas profundezas do amor,
Ressurja com todo o seu esplendor.
 
(Pedro Araújo)

segunda-feira, 4 de maio de 2020

É linda

O vento passa devagar por você.
Não entendo esse caminhar
Sereno que ainda me leva a te ver.
Talvez seja um impulso do ar.

Os redemoinhos varrem as folhas,
Elas sobem, dançam e se perdem.
No mundo vivemos de escolhas,
Mas até nisso acasos acontecem.

Eu observo a alegria em volta,
As abelhinhas nas flores diversas.
O sol brilha em visível revolta,

Com a beleza que tu dispersas.
Agonizante, ele se retira e ainda
Ao sair parece dizer: - é linda.

(Pedro Araújo)



domingo, 3 de maio de 2020

O Antiverso II

Observo um mundo perdido

Entregue aos colapsos 

De eventos anteriores.

Desse mundo espero paz,

Amor, sabedoria.

Eu espero desse mundo

O que espero de mim.

Mas de mim pouco entendo.

Talvez por isso

O mundo ande tão 

Complicado. 

O autoentendimento é difícil.

Para não falar raro.

Um prato chique, cheio

De plantinhas e pozinhos

Brancos. Vi isso

Em um filme. De fato,

O Globo tem o formato

Da minha cabeça.

Está repleto de coisas

Das quais quero me livrar.

Mas é difícil sair por aí

Dizendo que acabou.

Chega de cometer os mesmos

Enganos. Os mesmos

Tropeços e chorar

Pelas mesmas horas.

Observo um mundo perdido

Em seus medos. Dos quais ainda

Me escondo por serem,

Fatalmente, os meus medos...


(Pedro Araújo)

Impulso obscuro

[...] Corpo de azul e branca pele,

De calor intenso e sexo sufocante.

Na altura do mais frio e errante

Homem, procurou o que se repele.


Era o coração que lhe pertencia,

Jogado no mar escuro e profundo.

Nas impurezas de outro mundo

Diferente daquele ao qual se via.


Mas, ah, não faça de mim ainda

Esse sofredor sem norte, iludido,

Por uma feição triste e linda.


Deixe-me voar por esse sórdido 

Desejo. Que seja bem vinda

A certeza do sonho escondido.


(Pedro Araújo)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

16 de janeiro (2)

Observo um mundo novo,
Repleto de novidades esplêndidas. 
Encho a minha xícara de café.
É quase meio-dia.
Ontem choveu nesse horário.
Costuro em minha cabeça
Diagnósticos. A pasta do dia
É longa. O meu trabalho
Espera de mim eficiência.
Vivo num tempo enferrujado,
mas propenso ao novo.
Novo ódio, novo assalto,
Novo drama das nove.
Levanto. O corpo pesado. 
A alma pesada. Procuro no vazio
Todas as razões do mundo.
No fim, acabo remoendo o passado.

 (Pedro Araújo)

16 de janeiro

[...] Sou um poeta velho.
Tenho em meus olhos a certeza
De dias esquecidos.
Coloco a mão no bolso.
Uma moeda? As nuvens passam.
Em suas formas, animais,
Ocasiões; algumas engraçadas.
O pensamento voa.
Cara doido! - pensa um garoto ali perto.
Ele não sabe o que vivi.
Sigo rua abaixo.
Ainda perdido no vazio.
Uma quimera de ferro,
Cimento e pessoas se apresenta.
Afinal, já passa das 11:00h.
A vida borbulha o seu frenetismo.

(Pedro Araújo)