sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Texto casual IV

Penso em um mundo fantástico.
De pedras firmes em lugares altos.
Ferro, cimento, vidro.
Os maiores ornamentos.
Livros em bibliotecas subterrâneas. 
Penso em um mundo orgânico.
Com ramos, o verde-anil,
A terra amarela. A sandália suja.
As crianças brincando.
Lá fora o sol queima a pele.
Queima as ideias. A fusão, a fissão,
A profissão se misturam
Em um mar de desespero.
Não há mais espaço para o romantismo. 
Tudo se perdeu no processo.
E ele vem de anteontem.
A historia é um enigma exuberante.
A temer-se, a entender-se, a admirar-se.

(Pedro Araújo)

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Comédia romântica

CRIANÇA, 
Quando pensarem mal 
Das suas atitudes diferentes. 
Pense que não entendem 
Como a vida funciona.
Que correr pelado pela praça 
É uma diversão e tanto.
Que comer terra faz bem. 
Criança quando te reprimirem
“Por ser feliz”. Não aceite. 
Chame a todos de bobos:
- Vocês são uns bobos!
Eles verão que você fala sério 
E que tudo não passou 
De mais uma maluca e intensa 
Comédia romântica.

(Pedro Araújo)


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Soneto: Paixão

À noite, penso em momentos felizes, 
Na tua mão junto a minha segurando, 
Sonhos distantes de viver amando 
E esquecendo os constantes deslizes.

Apego-me a lembranças doloridas 
Ao detalhe vermelho do teu laço, 
Ao gesto gracioso, ao triste abraço 
Como um doente a curar as feridas.

Preso a detalhes sem importância 
Residindo em labirintos escuros, 
Chorando por dias de solidão...

À noite, penso em outra distância.
"Essa" que nasce dos momentos puros 
E termina sem nenhuma explicação.

(Pedro Araújo)

Soneto: Priscila

Priscila, o meu amor é um rosário 
Que custa a terminar e que me anima, 
A inspiração da qual faço doce rima. 
É o duro quebrar de um itinerário.

É uma pulsação que queima na veia 
Que sufoca a vontade e que liberta, 
Que destrói num instante e conserta 
Como se nada acontecesse. Receia,

Pune e traz inúmeras sensações: 
A raiva, a autopiedade, o medo 
E a incontrolável vontade de gritar.

Assim é o meu amor e suas emoções, 
Cheio de fragmentos que concedo 
E que na prática apenas fazem chorar.

(Pedro Araújo)

Cavaleiro

Amor sublime e convalescente
 
Nas regiões tênues abandonado
 
Enfrentando a dor de ser exilado
 
No dever da redenção somente.
 
 

Enfrente a fúria do segredo
 
A razão da prática duvidosa
 
A morte certa a vida honrosa
 
Afaste do coração o medo.



Pois quem ama assim perdido
 
Antes deve encontrar a verdade
 
A dura prova a outra idade

Deve se conter ser deprimido.



Dor sem limite e sem noção
 
Que na alma pobre cria casa
 
Nem entende o que passa
 
Como pode condenar o coração?
 

 
Pelas batalhas sigo confiante
 
Do retorno a esperança ausente
 
A bela figura na minha mente
 
Levanto a espada e grito avante.

(Pedro Araújo)

domingo, 17 de novembro de 2019

Sentimento II

[...] Não entendo 
Mais os teus beijos.
Eles passam calados.
Não demonstram 
Sentimento.
São agressivos, covardes. 
Não despertam 
Em mim o amor 
De antes. São beijos 
Estranhos, rancorosos. 
Que sabem ferir.
Que encostam 
As peles quentes.
Que envolvem 
Em um jogo morto, 
Saboroso, do pecado.
Mas que nada 
Pretendem. Apenas 
Passam provocando 
Um vazio na alma.

(Pedro Araújo)

Ofício Poético VI

Hoje, recebo as graças de um novo público.
Ele está presente em muitas coisas.
No meu andar melancólico e diário.
Nos meus bocejos bem frequentes.
Ele está presente nos meus pensamentos. 
Nos maiores pensamentos.
Nos mais relevantes. Os impossíveis. 
Apertado entre lembranças.
Soprado pela instabilidade dos momentos. 
Todos eles inclusive.
Eu que sou a menor das coisas. 
Detenho-me a imensurabilidade.
A métrica ausente de um texto confuso. 
Preso entre as entrelinhas.
Como antes fez Otelo e Estácio.
Embora as palavras ensaiem 
A obra desejada. Que importância tem?
O meu público não deseja nada.
Está calado. No escuro. No silencio. 
Vivendo tanto. Realizando sonhos. 
Envelhecendo como outros fizeram.
Da mesma forma. Nas mesmas situações.
Hipnotizados pelo futuro.
Um futuro curto. Momentâneo.
Rabiscado nas paredes da existência humana.

(Pedro Araújo)

Leve como o vento

Tenho a mania de pensar em você 
Em momentos de comparação, 
O sol e a lua, 
O mar e o deserto, 
As nuvens e a minha vida.
As nuvens...
Que engraçado é pensar nas nuvens. 
Nas formas que 
Mudam de forma
A cada sopro do vento.
Rir de coisas desprendidas. 
Enquanto elas passam, 
Tranquilamente.
Que paz nos traz.
Lembra-me de outros dias.
Outros tempos.
Onde rir era menos perigoso.
Mais livre que os pássaros,
Mais livre que as 
Folhas ao sabor do vento.
Esse vento que move as nuvens. 
Fico triste e com saudade.
São nesses momentos que paro 
Para pensar em você.
Paro para pensar 
Em nos dois.
Paro para chorar 
Os erros e 
Macular os acertos.
Neles você está linda.
Linda. Radiante.
Eu bobo como sempre.
Achando um espetáculo o simples 
Caminhar dos teus cabelos. 
Recitando poesia para o vento. 
Esse vento danado 
Que sopra e sopra.
Que carrega as coisas.
Que muda a forma de tudo.
Até do amor. Até da paixão. 
Triste de mim por tudo.
Apenas as lembranças 
Consolam o meu coração. 
Coração leve demais.
Leve como o vento.

(Pedro Araújo)

TIC-TAC! TIC-TAC

Hoje, estou repleto de sonhos. 
Os maiores que posso imaginar. 
Sonhos de estar com você. 
Sonhos de serenata.
Um sorriso, um abraço.
Beijos ao sabor do vento.
Hoje, estou tão feliz. 
Passeando pelas nuvens. 
Achando tudo perfeito. 
Bajulando o relógio.
Ele faz: TIC-TAC! TIC-TAC!
Eu perdi tanto tempo?
Hoje, o vento é diferente. 
Carrega a minha alegria.
Os meus momentos.
Doce soprar da harmonia.
Ao costurar do vento.
Hoje, desejo o bem sincero. 
Aquele que consome as horas. 
Objeto de fieis acertos.
Ao festivo dançar das rosas. 
Hoje, é um dia meu amor.
As folhas vivas, dançarinas.
Vagam a nossa frente.
Os olhares encontram-se.
Tudo termina, de repente.

(Pedro Araújo)

Até quando?

Hoje, quando acordo penso em circunstâncias.
O cair da noite já não reflete a liberdade. 
Os ditos sonhos, as calorosas sensações 
Tudo mudou implacavelmente.

Hoje, os livros parecem algemas pesadas. 
O conhecimento necessário!
Mas de um jeito diferente, cheio de obrigação 
Que me faz pensar: - até quando?
Se Atlas lesse esse poema me daria razão.

Hoje, as pessoas riem menos.
Medem os passos, tornam-se reservadas. 
Colocam o semblante acima de tudo. 
Consequentemente, sofrem atrás de paredes invisíveis, 
Intransponíveis.

Hoje, pensa-se em dinheiro, 
Casa e família. Todos importantes.
O que fica para a alma atrofia,
Rende-se a continuidade.
Perde a graça e o entusiasmo.
Morre, simplesmente.


Tudo isso me faz pensar: - até quando?

(Pedro Araújo)

Texto casual II

Perco-me em ilusões ferozes nos sonhos. 
Entendo que fazem parte do processo.
O sonhar tem dessas coisas.
Mesmo a vida. 
O estar acordado.
Tem os seus prejuízos.
Os seus processos.

Assistir a briga dos vizinhos. 
Assistir a acidentes.
Assistir ao próprio assalto. 
Fazem parte de um processo. 
No qual vivemos escondidos. 
Esperando o fim dos tempos. 
Atentos aos sinais do apocalipse. 
Coisa que nunca chega.

Talvez, um terremoto. Um furação.
Um asteroide resolva.
Chamar a polícia, pedir para os políticos. 
Isso não resolve. 
O diabo corre solto. 
Estamos despreparados.
Estamos acostumados com tudo.

Só nos resta sonhar. Entregar-se absoluto 
As ilusões ferozes. Ao subconsciente. 
Aos beijos, aos abraços 
De outra ideia, de outro mundo.
Existente em nossas cabeças, somente.

(Pedro Araújo)

Ofício poético V

Não pense no amor ausente. 
Pense na distância 
Que separa as palavras.
No universo de enigmas 
Que são os pensamentos. 
Esse amor está distante.
É passado. É dor 
Que permanece e corrompe. 
As palavras formam 
Os pensamentos mais 
Lindos. As emoções
Menos intencionais.
Tudo nasce e implora 
Por centenas de anos de paz. 
Siga a criação. Esqueça 
A tristeza do amor.
A pena na mão é como 
A redenção dos condenados. 
O mergulho sereno 
No grande reino das palavras. 

(Pedro Araújo)

Texto Casual

Hoje, o dia passa sem ser notado.

O vento sopra. A chuva cai.
 
A música toca.

Os abraços acontecem.

Os beijos se insinuam.
 
Recito poemas antigos.
 
Procuro a paixão.

Toda a natureza se curva
 
Ao meu coração.

Ele vazio se esconde

Nas palavras.

Perdido no medo
 
De viver a dor que apenas 
 
As palavras ignoram.


(Pedro Araújo)