segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Canto apodrecido

Ouço no céu o canto apodrecido
Dos teus lábios tão esperados;
Embriago-me vil e distorcido
Como se fossemos namorados...
 
... A lua parece chorar ainda
Pelas lembranças que tenho;
- Ouço o som e te vejo linda
A ostentar o amor ferrenho...
 
Acorde, oh coração, e tente,
Pois nada justifica essa dor.
Levante essa face doente...
 
Reflita sobre um novo amor.
O som aos poucos esmorece;
São anjos a ouvir minha prece.
 
(Pedro Araújo)

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Um pesadelo

Sombras terríveis te consolam
Neste dia fatídico que digeres.
Há gritos n’alma que ressoam
A angústia que assim sugeres.
 
Buscas em teus desejos tanto
Que se perde em coisas vãs.
Conspiras no ódio o encanto,
Afogas a raiva noutros divãs.
 
Vives iludido pelo amor sincero,
Amargurado e ainda rancoroso.
Que nunca foi algo próspero.
 
Buscas na ausência um caloroso
Motivo para não se ver morto,
Aplacado pelo fim vil e absorto.
 
(Pedro Araújo)

terça-feira, 27 de julho de 2021

Dedicado à Luzia S. de Miranda

... Que a arte divina, santa,
Dite as notas desse novo canto.
Realize a arte com o encanto
Já que o bem todo mal espanta.
 
... Noites frias do mês de julho
Não tardam a me fazer sofrer.
As lembranças levam até você,
Tudo ao redor afoga o orgulho.
 
Anjos tristes não podem consolar
O terror que é a falta que sinto,
Mil musas não podem inspirar.
 
A alma doente e em labirinto.
Vá em paz e se puder assista
A queda desse coração altruísta.
 
(Pedro Araújo)

quarta-feira, 16 de junho de 2021

O tempo passa, e ela me esquece

Os corvos sobrevoam o céu cinzento
Toca ao fundo a música do encanto,
Eu me perco nas linhas que invento
Para uma história que dói tanto...
 
Os coveiros passam lentos e tristes,
Já não vejo o sol no alto iluminando.
Apenas os pensamentos que assistes
São o combustível me alimentando.
 
Não sinto gosto em quase nada,
As lembranças me devoram todo dia.
Oh almas, façam dela uma finada.
 
E arranquem de mim essa covardia.
"Soam os corvos e o céu anoitece,
O tempo passa, e ela me esquece"...
 
(Pedro Araújo)

terça-feira, 16 de março de 2021

As chagas de cem mil epicuros

Oh almas que pelo mundo andam
Sem rumo em busca de atenção,
Olhem para mim e intercedam,
Renovem a energia desse coração.
 
Há tempos não vejo mais motivo
Para sorrir e me sentir renovado.
Sou sim o olhar triste e vivo
Do mais cruel e vil desagrado.
 
Peço a vocês, oh almas perdidas,
O consolo negado aos impuros.
Criem nessa alma as feridas,
 
As chagas de cem mil epicuros.
Concedam justiça a esse homem,
Pois as lembranças não somem...
 
(Pedro Araújo)

 

Impulso Obscuro II

Fato esse concreto e obscuro
Levando em seu favor o surreal.
Ave de rapina em voo inicial
Vigilante algoz, monstro puro.
 
Ignóbil proeza me leva a vê-lo
Arrastando-me em meu caminho.
Bigode aparado e belo cabelo,
Erguendo uma taça de vinho.
 
Levanto a espada e ajoelho
Tão pouco de mim se projeta.
Raiva e carinho, uma gorjeta,
Abalam esse cavaleiro velho.
 
Ôoo mundo cruel, desumano,
Eu não entendo essa sensação.
Um longo e nefasto turbilhão
Tem em mim um espaço insano.
 
Em qual bosque vives e canta,
Anjo ruim que me fez doente?
Mais bela e pura que uma santa
Ostentando a luz do sol poente.
 
(Pedro Araújo)

sexta-feira, 12 de março de 2021

A esse coração perdido

Vocês que do céu andam afastados
Que pelos esmos encontram morada.
Escutem os apelos amargurados
Desse coração varrido pela amada.
 
Tragam discórdia, doença e enterro
Àquele que me condenou a essa dor.
Que a ausência seja o último erro
Lamentado por esse covarde amor..
 
Consumam dessa alma sem graça
Os momentos alegres e maltratados
De uma vida repleta de desgraça.
 
Preencham com justiça os enlutados
Sentimentos que me doem tanto.
Arranquem de mim esse sujo pranto.
 
(Pedro Araújo)

quinta-feira, 4 de março de 2021

Primavera

Voem passarinhos pelos campos.
Pelo céu azul do dia ensolarado,
Cantem cigarras e pirilampos
Ao ritmo alegre e compassado...
 
Passem nuvens e revelem o sol
Que ilumina esse verde tanto.
Escorra água, encha o meu crisol
Ao som de um outro acalanto.
 
... Balançam as flores e lentas,
Vagam as abelhinhas zunindo
De ponto a ponto bem atentas.
 
Já morre o inverno e esvaindo
A sua presença sem saudade...
Como quem tomba co’a idade.
 
(Pedro Araújo)

Cantem corvos do desespero

Orbes que vagam pelos esmos
Digam ao meu destino calado.
Que eu sigo ainda os mesmos
Caminhos do meu desagrado...
 
Cantem corvos do desespero
A música cruel do meu engano.
Tragam à memória o enterro
No qual me vi sujo e profano...
 
Sinta coração esse sentimento
Que passa calejante sempre.
Não duvide desse passo lento.
 
O retorno virá e Deus cumpre
O que diz aos seus seguidores.
Eu verei em outro essas dores...
 
(Pedro Araújo)

segunda-feira, 1 de março de 2021

Corre pelo céu nublado o vento

Corre pelo céu nublado o vento
Que me leva pelos teus lugares.
Balança os cabelos e eu tento
Me desfazer dos meus pesares.
 
São longos pensamentos tristes,
Momentos vis de um homem tolo.
Ah, Deus se um dia me ouvistes
Me dê esse merecido consolo...
 
Sinto sons sombrios e pesados
Consumirem a minha vontade.
Projeto em mim gritos calados,
 
Sou a imagem de outra falsidade.
Oh, almas que rezam por mim...
Tragam a esse amor o seu fim.
 
(Pedro Araújo)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Soneto de Inverno

A chuva cai lenta no céu nevoado
E em mim os pensamentos voam,
São fragmentos do meu passado
Por quem as trombetas soam...
 
Peço a Deus que elimine esse som
Que consome esse peito infame.
Tenha esse poeta um outro tom
Que o engrandeça e não o difame.
 
A chuva cai agora e me faz ver
Um novo jeito de ainda seguir.
Um que não contenha mais você.
 
Um que me faça voltar a sorrir.
Que apague as mazelas dessa vida
Que ainda precisa ser esquecida.
 
(Pedro Araújo)

domingo, 17 de janeiro de 2021

Seduzido pelas migalhas tristes

Eu te busco nos sonhos sombrios,
Acalanto o meu pesar com lamento.
Sou a encarnação do sofrimento,
Nos seus impulsos mais ébrios...

Abro as cartas muito amareladas.
Não vejo mais o meu amor querido.
Suspiro em um sonho já inserido
Nas piores angústias dissimuladas.
 
As lágrimas escorrem sorridentes.
Riem de mim e do meu tormento,
São hienas a mostrar os dentes...

Eu me perco no meu pensamento,
Seduzido pelas migalhas tristes
Que de certo nunca na vida vistes.

(Pedro Araújo)